Frater Optimus, o mago da velha guarda, escreve em sua coluna o que bem entende sobre diversos temas do ocultismo e da magia. Dessa vez, ele solta o verbo sobre sua mais recente descoberta – a de que algumas pessoas estão considerando ele uma espécie de Mestre, como tantos Mestres da Internet que existem por aí!
Era só o que me faltava. Vieram me dizer um dia desses que tem gente por aí achando que o que eu escrevo nessa coluna é uma referência. Que com toda minha experiência (obrigado por não me chamarem de velho, mas eu entendi a mensagem!), minha opinião precisa ser respeitada. Que certas pessoas, mesmo sem concordarem muito com meus argumentos, acatam a minha opinião. Para mim, isso está errado em tantas camadas que não sei nem por onde começar. Se você acha que eu sou referência de alguma coisa, você é mais burro do que eu imaginava. Eu pensava que essa situação, as pessoas achando que eu sou alguma espécie de guru, era ruim o bastante. Mas é pior ainda. Porque além de mim, soube que os internautas estão adotando um monte de “mestres” que tem por aí. Isso, para mim, é inaceitável.
Deixe eu explicar por que eu acho que você não deve me considerar um guru. Depois eu falo dos outros “mestres”.
Primeiro, ninguém deve ser uma referência para você, a não ser você mesmo. Ponha isso nessa sua cabeça oca. Se alguém te diz alguma coisa, conteste. O fato de uma pessoa mais “experiente” (belo eufemismo!) dizer alguma coisa não torna essa coisa automaticamente verdade. Gente mais velha também fala asneiras. (Gente nova talvez fale mais asneiras ainda, mas idade não é sinônimo de sabedoria.) Isso não se aplica só a pessoas que você conhece, ou a gente como eu, que dá sua opinião por aí, mesmo para quem não perguntou nada. Você deve considerar isso especialmente em relação a pessoas inalcançáveis – filósofos clássicos, autores mortos, e as tais “autoridades”. Não existe esse negócio de autoridade. Todo mundo fala bobagem. Não acredite cegamente em nada nem em ninguém.
Segundo, que a minha experiência é só minha. É, foi e será diferente da sua. Não existem duas experiências iguais. Mesmo que eu tenha passado por mais situações do que você, isso não significa que a minha experiência é mais relevante do que a sua, ou de qualquer outra pessoa. Nós viemos de lugares diferentes, de tempos diferentes, e temos objetivos diferentes. Então, a minha experiência é, para todos os efeitos, irrelevante para você. É claro que você pode aprender com os erros e acertos dos outros – não fazer isso seria burrice. Mas você não pode – ou melhor, pode, mas não deve – se basear na minha experiência, que é única, pessoal e intransferível, para chegar a conclusões definitivas que afetem a sua.
Terceiro: a minha opinião precisa ser respeitada? Parece sensato, mas não é. A opinião de todo mundo precisa ser respeitada. Se você só respeita a minha opinião porque eu sou mais “experiente”, você precisa reavaliar sua visão de mundo, como ser humano. Respeite a opinião de todo mundo, mas não se fundamente na opinião de ninguém.
Em quarto lugar, se você acata a minha opinião sem concordar com os meus argumentos, você tem sérios problemas. Os argumentos geralmente são muito mais importantes do que a opinião. Você deveria se basear nos argumentos apresentados pelos outros para chegar à sua própria opinião! Isso, é claro, considerando que estes argumentos são válidos. Porque muitas vezes não são. Cabe a você avaliar.
Esses são alguns dos motivos pelos quais você não deve acreditar piamente no que eu digo, não deve me considerar uma autoridade, e não deve acatar minhas opiniões sem sua própria análise crítica. Mas eu, caro leitor, posso dizer seguramente que estou aqui lhe dizendo minhas opiniões honestas e sinceras. O que certamente não é o caso com a maioria dos “mestres” que existem por aí.
Em tempos de satisfação instantânea e amores líquidos, como os que vivemos hoje, não há espaço para as figuras messiânicas clássicas. Jesus Cristo, se nascesse hoje, seria só mais um desses malucos que fazem filmes para a Internet. Não seria levado a sério.
É claro que comunidades religiosas ainda conseguem reunir fiéis devotos a uma causa única. É claro que pastores, papas e outras figuras religiosas ainda concentram uma certa dose de admiração, e até reverência. Mas o tempo da adoração messiânica a pessoas vivas no ambiente religioso já passou. Hoje em dia, artistas (quase todos ruins), executivos de grandes marcas (quase todos malignos), políticos (pois é, chegamos a esse ponto) e os tais “formadores de opinião” da Internet recebem muito mais devoção do que as figuras religiosas clássicas.
E quando o tema é o oculto, a magia, etc., a força nas mãos desses tais “formadores de opinião” me assusta um pouco. Não existe mais espaço para mestres tradicionais, mas ainda há espaço para quem faz filmes para a internet falando bobagem. O público é burro e carente. Qualquer suposta credencial de autoridade é suficiente para convencer as pessoas de que aquele “formador de opinião” é uma figura messiânica pós-moderna, e deve ser venerada como tal.
Essa credencial pode vir na forma de um título, um honorífico, o fato da pessoa ter escrito um livro, ou mesmo de fazer filmes para a Internet. Só que o título, meus caros, na maioria das vezes é inventado pela própria pessoa. O honorífico, idem. O livro normalmente é um lixo. E filmes de Internet… nem vou falar nada.
E assim nascem os “Mestre Fulano”, “Frater Beltrano”, “Pai Cicrano”, que tanta gente respeita, acredita e até mesmo obedece cegamente. Isso me mata por dentro, saber que tanta gente cai no conto do vigário dessa gente. E me corrói mais ainda saber que certas pessoas – que espero que sejam poucas! – acham que eu sou um desses Mestres da Internet. Eu não sou. Eu sou uma pessoa normal, escrevendo o que pensa para quem tiver paciência de ler. Então, pare de acreditar em mim, pare de me seguir cegamente, pare de me encher o saco. Eu, hein. Gente maluca!
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